Sessenta e seis anos após a rendição nazista na II Guerra Mundial, o antissemitismo continua presente em 20% da população alemã. Ou seja, 16 milhões de pessoas ainda têm forte preconceito contra judeus – número que equivale, por exemplo, à toda a população da Holanda. O levantamento consta de um relatório recente encomendado pelo Bundestag (Parlamento da Alemanha).
Esse sentimento antissemita, porém, não está ligado necessariamente à violência ou a uma devoção por Adolf Hitler. O preconceito é velado, encoberto sob o tabu do holocausto que ainda incomoda essa sociedade, algo que pode ser facilmente comparado ao racismo no Brasil. “Não significa que essas pessoas ataquem os judeus, mas elas têm sentimentos antissemitas latentes, que não manifestam abertamente. São clichês, ressentimentos e preconceito”, explicou ao site de Veja a historiadora Juliane Wetzel, uma das especialistas do grupo que desenvolveu o estudo.
Mas é importante salientar que esse preconceito é tão perigoso quanto o da época do nazismo, ressalva Peter Longerich, professor de história e fundador do Centro de Pesquisas sobre o Holocausto da Universidade de Londres. Isso porque, explica ele, essas “piadas” são aceitas com naturalidade pela sociedade.
Os especialistas Peter Longerich e Juliane Wetzel com o estudo original em mãos
O especialista, que participou da pesquisa ao lado de Juliane, divide esse antissemitismo em duas correntes: a crítica à política do estado de Israel e a ideia de que, de alguma forma, os judeus estão lucrando com o holocausto – como se a “obsessão” do mundo com o massacre da II Guerra Mundial fosse um lobby israelense. “Muitos alemães sentem vergonha do holocausto, mas há uma minoria que tenta se livrar desse problema comparando a ocupação dos territórios palestinos com o massacre de judeus na Alemanha nazista para tentar compensar seu sentimento de culpa, acusando os judeus de cometer crimes parecidos”, explica. “É uma espécie de antissemitismo silencioso e funciona como um protesto contra o discurso sobre os crimes da Alemanha na II Guerra Mundial”, completa Peter .
O levantamento salienta ainda que esse sentimento não é algo novo. Há pelo menos 20 anos, o número de antissemitas no país varia entre 15% e 20% – e é essa estabilidade que preocupa especialistas, na realidade. “Obviamente, o preconceito e os estereótipos antissemitas são passados de uma geração para outra”, analisa Longerich.
Só que essa não é uma exclusividade da Alemanha, ao contrário do que se possa pensar inicialmente. O sentimento antissemita pode ser observado por toda a Europa, algumas vezes até em proporções maiores. A explicação está, por exemplo, nos primórdios da Igreja Católica, que incentivava a perseguição a judeus na Idade Média, em países como Portugal, Espanha, Rússia, Hungria e Polônia.
Fonte: Veja
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